Max Gómez Canle: Fuera de Lugar

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Apresentação

Max Gómes Canle: Fuera de Lugar

curadoria de Natalia Malamute e Violeta Mollo

 

Fuera de Lugar

por Natalia Malamute

 

A contradição da paisagem e da geometria: pequenos quadrados, paredes, janelas, construções rosadas e cor de laranja terroso que lembram os trabalhos de 1960 do arquiteto mexicano Luis Barragán, acontecem em paisagens inabitadas. Com a distância do caminhante, a gente se encontra com estruturas que deslocam e sem compreender bem de qual lugar se trata percebe-se uma sensação de humidade tropical. O contraste se repete em cada pintura mantendo uma espécie de uniformidade, um sistema, como um arquétipo levemente reformável, mas com o mesmo impacto: não compreendemos com certeza que lugar é esse.

Depois dessa primeira contradição aparece um novo imprevisto que aprofunda o estado de paranoia, talvez contagiada pela energia da época que transitamos. As construções que irrompem no caminho parecem não projetar sua própria sombra. Como se estivessem iluminadas por um sol imóvel, artificial, um sol que permanentemente as iluminara de frente. As pinturas de Max Gómez Canle produzem uma experiência similar ao perceber um glitch em um videogame: um sistema com bom funcionamento começa a detonar pequenos indicadores, piscadas não previstas que te descolocam. Porém não funcionam apenas como pequenas falhas perceptíveis a vistas atentas, mas que também incluem outra contradição. Rapidamente podem se converter em truques, novas janelas

que nos permitem transitar por diferentes caminhos. Então penso se o tempo transcorre nessas paisagens já estranhas por sua qualidade fronteiriça ou se será uma propriedade das construções que têm a capacidade particular de deter o tempo, como se pertencessem a um filme de ficção científica que torna possível o improvável.

De todo modo não é a primeira vez que as paisagens da natureza me parecem uma armadilha, penso que é em parte uma qualidade intrínseca: o aroma doce de uma flor que ao posar-lhe a mosca, a devora, insetos de cores brilhantes que resultam ser os mais intrigantes e venenosos, ou praias intermináveis em areia branca que ao pisar no lugar equivocado se afundam. A natureza parecia ter a habilidade de compreender sua capacidade de sedução e a debilidade que temos de cair nesses lugares rapidamente.

Não é apenas a paisagem, a própria pintura se torna um espelhismo. Max Gómez Canle lixa as pinturas como se tentasse compreender com o que estão construídas. Apaga o traço, quita-lhe a matéria e a impressão, ficcionalizando o passo do tempo. Uma vez mais não compreendemos com tanta segurança qual temporalidade lhe corresponde ao que estamos observando. As pequenas pinturas, como relíquias encontradas em um falso descobrimento arqueológico, se tornam ubíquas, onipresentes, gerando a sensação de pertencer a diferentes períodos e a nenhum ao mesmo tempo. Ao livrar-se de sua topografia, as pinturas se revelam puramente como imagens planas. Talvez seja o desejo do olho acostumado ao consumo hiperdigital de nossa época, mas o que antes se via claramente como uma árvore, um caminho, uma montanha, uma figura geométrica, tudo começa a abstrair-se e reaparecem em formas de blocos de cores primárias: vermelhos, azuis e verdes que evoluem até diminutos quadradinhos. A pintura se pixela conseguindo revelar sua mínima expressão ao mesmo tempo que se converte em algo novo.

O instante do glitch nos permite repousar na crença desses lugares e a fantasia nos resulta em um alívio. Max Gómez Canle tem a habilidade de construir espaços de curiosidade e intriga por onde gostaríamos de passear. Nascidos do sonho de uma imaginação desejante suas paisagens nos introduzem em lugares onde existem tijolos que constroem céus.