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Para a artista e ativista Lyz Parayzo, o mundo é um campo de batalha e, sua arte, munições. Ao lidar com as violações que sua identidade trans feminina catalisa diariamente, sua tática tem sido se infiltrar em espaços de poder a fim de amplificar e difundir suas idéias para o público. Para isso, ela assumiu o desafio de conceber obras de arte que pudessem ser catalogadas, exibidas e adquiridas por coleções, ao mesmo tempo em que proporcionam um meio adequado para destacar e questionar a ausência de corpos dissidentes em tais espaços.
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Ouriço Shield, 2022Impulsionada por esta necessidade vital de autorrepresentação, Parayzo foi concebida como uma instalação imersiva que incentiva a participação física e intelectual do visitante através da criação de um ecossistema interativo. A exposição encapsula um organismo de arquiteturas biológicas no qual cada uma de suas células é formada pela rotação de uma linha, contando com uma interpretação orgânica da abstração geométrica. Ela marca o auge dos 5 anos de exploração no domínio da escultura e da joalheria com o metal, material que a artista recupera com destreza do reino hiper masculino da solda para ofuscar as concepções binárias de gênero.
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Por outro lado, esta nova pesquisa sobre movimento não é apenas uma continuação de sua série de objetos de autodefesa (que citam plasticamente a estética concreta baseada em conceitos como gestalt, cut and fold), mas é também uma tentativa de espacializar seu trabalho e criar novas áreas de tensão e atenção dentro do espaço expositivo. Em sua reinterpretação da escultura cinética e ótica, ela extrai de uma herança construtivista internacional - uma herança que não está, como sua vertente neoconcreta no contexto brasileiro, relacionada à colaboração do público, mas sim na intenção oposta de tornar o espectador ativo através do simulacro do perigo. Ao fazer isso, ela também empreende a reapropriação de um território historicamente reservado às elites cis-heteronormativas.
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PopCreto, 2022 -
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Medium Shark Mobile, 2022 -
Ouriço ring, 2022 -
Ouriço earrings, 2022A exposição conclui com um trabalho audiovisual que fornece uma visão sobre os diferentes elementos que compõem Lyz Parayzo, ao mesmo tempo em que expõe didaticamente as questões que são enfrentadas coletivamente pela comunidade T no Brasil hoje. Exibida na segunda sala, Cavalo de Tróia mergulha na jornada pessoal da artista como aluna de mestrado na prestigiosa Escola de Belas Artes de Paris, onde ela lida com questões de disforia e construção da identidade. Com o uso de imagens simbólicas e cenários oníricos, ela retrata visualmente uma realidade na qual um corpo de imigrantes trans pode ter acesso à educação e à profissionalização. Parayzo depende da crença na construção de novos imaginários para finalmente moldar as realidades vividas dos corpos marginais. Ele ergue um labirinto expositivo que é altamente estético, mas decididamente político - ele próprio um imaginário tangível da própria ideação da artista. Ao construir este microcosmo, Lyz Parayzo se esforça para materializar e exibir experiências cotidianas de opressão através de uma perspectiva autobiográfica. Através do exercício da autodeterminação, ela continua desafiando e denunciando as estruturas políticas que fomentaram e permitiram que a violência sobre esses corpos persistisse sem controle.
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![LYZ PARAYZO [1994, Rio de Janeiro, Brasil. Vive e trabalha em São Paulo, Brasil e Paris, França]. Estudou teatro na...](https://artlogic-res.cloudinary.com/w_620,h_620,c_limit,f_auto,fl_lossy,q_auto/ws-artlogicwebsite0070/usr/images/feature_panels/image/items/4f/4ffacae331504d89993cbfbc6403a7b2/lyzparayzo-camilafalca-o.jpg)