Juliana Cerqueira Leite: Hotel Marajoara: Casa Triângulo, São Paulo, Brasil

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Apresentação

Ao longo de sua trajetória, Juliana Cerqueira Leite desenvolveu investigações acerca do corpo humano e a história de sua representação. Nesta mostra, a artista dá continuidade à pesquisa propondo a reflexão, a partir de memórias familiares, sobre como são construídas as definições daquilo que consideramos ou não cultura. 

 

Durante os anos oitenta, o tio de Juliana trazia objetos de cerâmica produzidos no Pará para comercializar em São Paulo. Estes objetos, popularmente conhecidos como marajoara, são hoje encontrados em lojas “tipicamente brasileiras” por todo o território nacional e sua estética é valorizada como objetos de decoração. Questionando a origem destes itens através de pesquisas em diferentes reservas técnicas arqueológicas, a artista identificou que as cerâmicas decorativas do norte do Pará são descendentes formais de urnas funerárias ameríndias, produzidas na mesma região por quase quatro mil anos.

 

Em Hotel Marajoara, Juliana Cerqueira Leite apresenta uma série de esculturas, réplicas de urnas, desenhos, vídeo e colagem digital que propõem diálogo com as urnas produzidas pelas culturas dos povos originários até a perda desta prática em consequência da colonização. Para estas culturas, o corpo é o que permite a identidade humana da alma. A alma, por sua vez, perdendo seu corpo na morte, poderia encarnar em outro animal num perigoso processo de transformação. Neste processo, as urnas funcionavam como objetos agentes que fixavam e transformavam a alma do ancestral.                   

 

Na exposição, três réplicas de urnas funerárias ameríndias - Maracá, Aristé, e Marajoara – são apresentadas.  Provenientes do projeto Replicando o Passado – uma parceria do Museu Emilio Goeldi e mestres ceramistas de Icoarací, no Pará, as obras foram produzidas ao mesmo tempo que as da artista. Através do vídeo, somos levados para dentro das reservas técnicas dos museus onde se encontram estas urnas funerárias hoje em dia, seguindo uma narrativa sobre o colapso de culturas e a perda do corpo.

 

A exposição inclui ainda dois Corpos Moles e desenhos, trabalhos que nos levam para o espaço interno do corpo em decomposição. As esculturas são compostas de aros interligados de papel, pendurados na parede, formando um totem celular. Molhada com gesso esta estrutura de papel se deforma, sendo comprimida pela gravidade ao mesmo tempo em que se enrijece, gerando uma forma que é ao mesmo tempo um processo.