Eduardo Berliner: A Forma dos Restos: Casa Triângulo, São Paulo, Brasil

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Apresentação

Para Eduardo Berliner, a qualidade da superfície da madeira justifica seu uso como suporte ao longo dos últimos anos. Segundo o artista, sendo mais lisa do que a lona, diminui o atrito no movimento do pincel permitindo um trabalho com linhas mais velozes e fluidas e a criação de um espaço híbrido entre desenho e pintura. Importante acentuar que alguns desses trabalhos receberam chapas de compensado ao longo do processo, o que enfatiza seu aspecto especulativo.

 

O modo como Berliner realiza seu trabalho é essencialmente introspectivo: “De forma geral, o repertório imagético deriva do acúmulo de registros diários realizados durante anos em meus cadernos reconfigurados pelo contato com o processo de pintura. São anotações de natureza distinta que flutuam entre a observação do meu entorno, informação absorvida de maneira consciente e inconsciente e um mapeamento de questões íntimas com forte carga psicológica”.       

 

Durante o processo de pintura, em contato com a fisicalidade dos materiais, questões de natureza e temporalidade distintas tendem a se fundir, originando imagens ou situações que não necessariamente se referem a um evento específico, mas a metáforas abrangentes sobre a condição humana. 

 

Um exemplo da temporalidade na obra de Berliner está no trabalho A estranha permanência na memória das coisas vistas no escuro, 2017. Composta por cinquenta pequenos desenhos e textos em nanquim e aquarela, criam uma atmosfera intimista onde observações e distorções da memória convivem lado a lado gerando uma narrativa que oscila entre unir elementos delicadamente para logo em seguida despedaçá-los, com o simples movimento dos olhos.